Na nossa existência, cada processo tem seu ponto de início e de final. Em nossas limitação humana de compreensão parcial da realidade como ela é, frequentemente relutamos em aceitar o momento de acolher com serenidade o fato de que algo chegou ao fim. Lidar com a conclusão de processos, seja na esfera pessoal ou profissional, é uma habilidade tão vital quanto subestimada.
Nossa tendência humana é de prolongar o que é familiar e confortável, mesmo quando sua função já se cumpriu. Muitas vezes, seguimos pela vida convivendo com tarefas inacabadas, deixando conversas pendentes, mantendo projetos em infindável desenvolvimento. E justificamos essa procrastinação com o argumento de economizar tempo, mas desconsideramos o fato de que o que permanece inacabado tem um custo, seja para nós mesmos porque depois será necessário ainda mais tempo e energia para sua conclusão, seja pela transferência do ônus da pendência para outras pessoas. Dessa forma, nossa incapacidade de finalizar nossos processos passa a ser compartilhado, muitas vezes sem a concordância de outros seres. Este hábito não apenas compromete nosso bem-estar e eficácia, mas também compromete a confiança em nossas capacidades e pode prejudicar a qualidade de nossos relacionamentos.
Se observamos no âmbito do coletivo, constataremos que também ali se verificam os efeitos dessa atitude de deixar em aberto os processos, ou encaminhar de forma deselegante e até irresponsável nossas ações. Um exemplo fácil de constatar refere-se ao consumo: agimos de forma impensada, requisitamos mais do que necessitamos, e logo depois descartamos como se fosse possível fazer desaparecer os efeitos de nossa incompetência ao lidar como nossas carências, ao tentar supri-las com elementos externos na tentativa inútil de substituir nossas verdadeiras necessidades.
Paradoxalmente, é no ato de concluir os processos que encontraremos a Liberdade autêntica para novos (re)começos. Ao fechar um ciclo com lucidez e dignidade, nutrimos o solo fértil no qual podem germinar as sementes de novas realidades. Esta atitude e prática é harmônica com a sabedoria intrínseca da natureza, onde cada estação cede graciosamente lugar à próxima, e assim a Vida resurge a cada momento, em beleza e poder. A vida, em sua simples e infinita sabedoria, opera na sucessão de ciclos, similares mas sempre renovados. Cada respiração, cada batida do coração, cada dia que nasce e finda nos lembra que início, meio e fim são partes igualmente essenciais de qualquer processo significativo. Ao honrar e respeitar esse ritmo natural, abrimos a possibilidade de uma vida mais plena de sentido, saúde e liberdade. Se quisermos uma imagem poética, trata-se aqui de optar por viver em harmonia com com a dança cósmica da eterna criação e dissolução.
Fica aqui o convite de que possamos aprender a finalizar nossos processos com a mesma motivação e respeito com que iniciamos, e reconhecer que cada momento em que finalizamos algo com dignidade e elegância, na verdade estamos gerando o prelúdio de um novo e promissor começo. A propósito: você já lavou, secou e guardou a última louça que usou? E a pia, está limpa e seca, pronta para o próximo uso? Seguimos.