Vida nova, ano novo

(4min de leitura)

A expressão usual é “ano novo, vida nova”, e sei que já estamos na metade de janeiro. Este texto é, de certa forma, um questionamento às crenças e certezas que tenho nutrido em relação ao tempo.

Vejamos alguns fatos históricos (fonte: Wikipedia): “o calendário convencional gregoriano que utilizamos atualmente é de origem europeia. Foi promulgado pelo Papa Gregório XIII (1502–1585) a 24 de fevereiro do ano 1582, em substituição do calendário juliano implantado pelo líder romano Júlio César (100–44 a.C.) em 46 a.C. Foram omitidos dez dias do calendário juliano, deixando de existir os dias de 5 a 14 de outubro de 1582. A bula papal ditava que o dia imediato à quinta-feira, 4 de outubro, fosse sexta-feira, 15 de outubro. Logo, em 1582, o dia do meu aniversário não existiu!
A mudança para o calendário gregoriano deu-se ao longo de mais de três séculos. Primeiramente foi adotado por Portugal, Espanha, Itália e Polônia; e de modo sucessivo, pela maioria dos países católicos europeus. Os países onde predominava o luteranismo e o anglicanismo tardariam a adotá-lo, caso da Alemanha (Baviera, Prússia e demais províncias, em 1700) e Grã-Bretanha (Inglaterra e País de Gales, em 1752). A adoção deste calendário pela Suécia foi tão problemática que até gerou o dia 30 de fevereiro. A China aprovou-o em 1912, a Bulgária em 1916, a Rússia em 1918, a Roménia em 1919, a Grécia em 1923 e a Turquia somente em 1926.
Alguns povos ainda conservam outros calendários para uso religioso inclusive com cronologia diferente da adotada pela Igreja Católica Romana. Segundo o calendário gregoriano, estamos agora em 2025. Para esta mesma data outros calendários apontam anos diferentes, como: Ab urbe condita 2778; Calendário Babilônico 6775; Calendário bahá’í 181–182; Calendário budista 2569/2570; Calendário hebreu 5785–5786; Calendário hindu Vikram Samvat 2081–2082; Calendário hindu Shaka Samvat 1947–1948; Calendário hindu Kali Yuga 5126–5127; Calendário Holoceno 12025; Calendário iraniano 1403–1404; Calendário Islâmico 1446–1447 entre outros.
Cabe mencionar, ainda, que a ideia simples de um calendário perene de 13 meses tem surgido desde meados do século 18. As versões dessa ideia diferem principalmente em relação a como são dados nomes aos meses e em relação ao dia extra no ano bissexto. Vale aqui citar o Calendário Fixo internacional (também conhecido como plano ou calendário Cotsworth e plano de Eastman), que é uma proposta de revisão do calendário solar desenvolvida por Moses B. Costworth e apresentada em 1902. Ele divide o ano solar em 13 meses de 28 dias cada. É, portanto, um calendário perene, onde cada dia corresponde ao mesmo dia da semana em todos os anos. Embora não tenha sido adotado por nenhum país, o empreendedor George Eastman o adotou em sua empresa Eastman Kodak Company, onde foi utilizada de 1928 até 1989. É também chamado de calendário de 13 meses ou calendário de meses iguais, entretanto existem muitos outros designs de calendários em que essa descrição também se aplica. ”

Pois bem, o que me parece relevante é que sentimos a necessidade de sistemas de contagem de tempo como referência de nossas atividades humanas. Ao par das utilizações institucionais, todos esses sistemas nos fornecem uma ideia de uma linha relativamente uniforme na passagem do tempo, que estará alinhada em certa medida com alguma referência de escala superior ao que sentimos como antes e depois, passado-presente-futuro. Ainda assim, em termos pessoais, sinto o tempo como algo bem mais flexível, muito mais relacionado à relevância que determinados momentos tomam para minha percepção, em termos existenciais.
Sem entrar em considerações teóricas, principalmente pela insuficiência de meu conhecimento, o que aqui considero digno de nossa atenção é a possível liberdade em relação ao que torna-se padrão através das convenções de todo tipo. Nesse sentido, eu sinceramente nutro a aspiração de que tomássemos liberdades tais como definir que temos a possibilidade de um ano novo pessoal, definido por algum evento marcante, tal como a emoção indescritível de ver a primeira flor surgir em nosso jardim, prenunciando a primavera que ainda está por vir. Ou ainda mais, que seja decretado que teremos um período de Natal a intervalos regulares, no qual todas as pessoas se deixem permear pela solidariedade, ser tocadas pela ternura e alegrar-se de forma altruísta e autêntica ao sentir que ainda estão vivas e fortes em seu coração as sementes do servir na manifestação de um mundo mais pacífico, justo e reverente à Vida.
Ao considerar essas possibilidades, me vem à memória as palavras de Anne Frank: “Que maravilha é ninguém precisar esperar um único momento para melhorar o mundo.” e “Todo mundo tem dentro de si um fragmento de boas notícias. A boa notícia é que você não sabe quão extraordinário você pode ser! O quanto você pode amar! O que você pode executar! E qual é o seu potencial!”
Então, retomo o início do texto, numa brincadeira de tornar presente o que racionalmente já seria passado: vida nova, ano novo! Receba meus votos de Feliz Ano Novo, seja o de 2025 ou o que pode começar agora mesmo, pelo poder de sua definição de uma nova vida, na próxima respiração. Exerça a liberdade de definir quando e como um novo ano começa na sua existência, e exerça a libertadora possibilidade de não precisar um único momento para melhorar o mundo. Estaremos juntas e juntos nesse caminho.

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