Crise

No momento em que você lê este texto, seja quando for, haverá uma série considerável de crises em andamento. Faz parte da história humana conviver com crises. A própria natureza da nossa existência caracteriza-se por crises que podemos chamar de vitais. Nascemos, e isso significa sair de um ambiente protegido para uma realidade que se apresenta algo hostil ao recém-nascido, cujos aspectos se apresentam em diferentes níveis de complexidade e amplitude, a depender das circunstâncias individuais. O fato é que, ao longo da vida humana, ainda que desapercebidas, as crises estão presentes.

Aqui, quero abordar a crise sistêmica que vivemos no planeta. Se quisermos, podemos referir como uma crise civilizatória. É desafiador elaborar de forma aceitável as variáveis com que convivemos. Degradação ambiental, dezenas de focos de guerra, desigualdades sociais, violência urbana, descrença generalizada nos referenciais antes válidos. E talvez a maior crise de todas resida na relativa alienação por parte da maioria das pessoas.

Vivemos na chamada era da informação, mas as evidências indicam que o incalculável volume de informações disponíveis e até mesmo compulsoriamente fornecidos não se manifesta em conhecimento autêntico e lucidez nas opções individuais e coletivas. Ainda que hajam alertas, chamados à mudança, convite à ação consciente, desafios claros em relação à nossa sobrevivência no futuro próximo, o que se verifica é uma imensa superficialidade, com tempo e energia desperdiçados de forma irresponsável em fatos e tendências de caráter no mínino questionável´, do ponto de vista do interesse no bem-estar coletivo. Ainda que seja uma generalização – e como tal, questionável – a maior parte da humanidade vive uma vida de “silencioso desespero”, para citar a expressão dolorosamente lúcida de Thoreau (*).

Então, o que me resta fazer? Considero que, em primeiro lugar, me cabe cuidar de minha existência. Por mais que muitas vezes me seja desconfortável, está além de minha capacidade consertar quem quer que seja. Certamente posso gerar uma referência positiva, diversa das usuais e dominantes, mas tal deve ocorrer com base em contentamento e leveza, com autenticidade e ausência de culpa própria ou projetiva. Não conheço um ser humano que aprecie ser culpabilizado ou assinalado como errado. Por outro lado, vejo muitas pessoas carentes de apreciação genuína e acolhimento para além de julgamentos. Aqui, talvez a mais dolorosa evidência da cultura vigente: devemos nos destacar ao fazer o que todas as pessoas farão, em um nível inalcançável, qualquer que seja o custo em termos de sacrifício dos valores únicos que representamos em nossa diversidade.

De modo a apoiar essas escolhas mais saudáveis, necessitamos o apoio de um ambiente apropriado. Em termos individuais, aí reside um poder considerável. A qualquer momento, qualquer que sejam nossas circunstâncias, podemos dar um primeiro passo no sentido de otimizar nosso estilo de vida. Esse é um aspecto decisivo na opção por uma vida mais simples. A partir do momento em que começamos a simplificar nossos processos no cotidiano, surgem novas possibilidades que se reforçam progressivamente, em um círculo virtuoso de otimização da qualidade de nossa vida.

Em minha experiência, o mais importante é encontrar a motivação adequada e começar. A visão serve para nos inspirar, e o foco no processo proporciona os resultados de forma natural e leve. Questione suas certezas, permita-se aceitar que é possível viver com mais liberdade, saúde e poder. E comece. O que faz a diferença é a prática.

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